Como que vertes
A vida em palavras,
A água, as bebidas,
Os cigarros, as pessoas...
O palco é teu,
Sempre o foi.
Então interpretas, diriges,
Me rouba uma noite
E me assistes ao teu lado,
Indeciso.
A tua língua é memória,
Metálica memória;
Os teus lábios são quentes,
Teus movimentos sutis
E experientes.
Catarse,
Tu não sabes.
Tu és espelho
De tudo que não,
Não me aproximaria;
Daquilo que mantenho,
Por bom senso e dignidade,
Tácita a minha distância.
Tangencias então,
A minha e a tua morte
Em teus cabelos de fogo,
Tuas tatuagens-reflexo
De alma e drama e lama.
Completas mais um vértice
Deste meu triângulo.
Liberta-me e queimas
Aqui, comigo...
Me guarda em tuas cinzas
De que se fazem renascer.
E se por acaso me esqueces
Com a mesma facilidade
Com que me devoras,
Saibas por certo
Que meu destino
Nunca foi outro
Que não desaparecer
Ao primeiro raio da manhã.
Um comentário:
Lânguido, suave, cru... tudo ao mesmo tempo, em uma mistura inspiradora perfeita. Adorei!
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