sábado, 28 de junho de 2008

Pensamentos oníricos

Fiquei esses dias pensando nos sonhos dos sonhos, reflexos bruxuleantes a tocar minhas ações no intervalo de desejo e tentativa.

De olhos abertos,
De olhos fechados.
Sempre piscando
Em seus reinos enevoados...

Sei que Morpheus teria resposta, canção, verso, adenota; provavelmente centenas de silêncios.
Eu tenho um projeto, dois marrecos, algumas idéias.

Tenho saudades dos teus olhos oceânicos, também, a fitarem a janela das imaginações por detrás de minha mente; o azeviche dos rodamoinhos a circundar os rodopios de tuas mãos em meus cabelos, em minha pele, em meus ouvidos... Sua voz tornou-se eternamente poesia em minha memória, lira dedilhada por nereidas e marés de nostalgia que percorrem distâncias e desejos sem fim na atlante imensidão de tuas histórias.

Um sussurro,
Um par de asas.
Pegadas melancólicas
Deixadas no vento
Enquanto flutuas...

Os sonhos dos sonhos são como idéias feitas de instantes, etéreos e inconstantes. São inquietações que nos perseguem não se sabe de onde, nem de quando, nem porquê. São pensamentos cintilantes em você, quaisquer que sejam as cores e os sabores e os amores que você representem.

sábado, 21 de junho de 2008

Momento interlocutivo

Muitas vezes eu me sinto uma criança que esqueceu o instante de adormecer, uma criança que perambula extática por entre idéias do dia e da noite, por entre risos e desordens de suspiros e murmúrios. Uma criança como que diante dum doce renegada, impertinente, impacientemente inconseqüente... Uma criança em hábitos e gestos de criança, bobos, desejeitados, inocentemente dissimulados pela felicidade incoerente de realizar uma travessura, ainda que breve.

Muitas vezes, a criança das decisões inabaláveis e dos desejos inquebrantáveis se confunde com o adulto, undívago a cruzar cautelosamente o mar das histórias, a tecer suas próprias memórias. Poder-se-ia, talvez, dizer que os dois velejam em uníssono a partir de um mesmo ponto: a essência dos desejos; mas creio que a mais sensata verdade seja admitir que a criança conduz o leme, a maior parte das vezes. Não meramente por descuido ou por supressões alimentares, como a falta de um almoço que nos invoca as emoções mais selvagens... mas geralmente pela minha dama eloqüente, que me concede essa vontade sapiente de deixar a criança aprender a navegar por diferentes corações, cores e feições de infinitos universos.

Meu único dilema é perceber que a criança ainda tem gestos involuntários, possessivos e ao mesmo tempo inseguros, como que querendo reafirmar sua soberania sobre mundos que no fundo ela sabe que se extendem muito além de seus olhos. Há também outras crianças ao seu redor, outros desejos, outros sentimentos e convicções tão profundos quanto suas paixões mais intensas.

Há, porém, instantes em que só o brilho de um sonho nos importa.

Olhamos pois para a face enlevada, o rosto poente de rosa sob a imagem da lua enfeitada de mármore, e eu apenas sei que a senhorita nos observa, Curiosidade. Pois sua itinerante vontade encontrou-se logo abaixo de nossas próprias palavras, visitando o caos angelical das idéias nem um pouco inocentes e fazendo reféns estes travessos observadores de palavras soltas na poeira cósmica de teus frutos e sementes estelares.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Impressões

Carrego dentro de mim a ternura insaciável dos textos-não-redigidos, pródigos filhos e destinos que se acanham diante do inevitável sussurro dos sonhos palpitantes a desenrolarem-se nas labirintudes circadianas de teus olhares curvilíneos. Enclausurados na inevitabilidade dos reflexos, livres em virtudes de acordes dilacerados pelas sombras da constância, afogados em extasias de miasmas sufocantes, alucinados ou alucinantes... Lúcidos como esta trama insatisfeita, de dizeres enrolados à procura de retortas, confeitas em pêssegos de desviados olhares ignosatisfatocêntricos do palco das histórias.

Um rodopio num canto estrelado do teu sorriso, à meia tinta de volúpias e bocas e palavras ditas indecentes, tão somente inconcretas; incompletas em suas inefabilidades, divagantes pela solidão eternamente nostálgica de delirares descompostos sobre abas e chamas de retalhes suspirados, suspirantes, sufocados ou sublimantes...

E eis o Eu, lírico como se Teu já o fosse, ou algo próximo disfarçado em breves sonatas que tornar-se-ão solertes incertezas diante de tuas versúcias sorridentes.

Ah, lépidas vertigens de quem me dera um dia provar os teus chamegos, os teus lábios, os teus seios, os teus olhos e contornos feéricos mais que iridescentes. Repousar minhas idéias no teu colo, meus pesares ao olvido de meus olhos no oceano dos teus. Meras imagens e sereias presas na areia do tempo, nos cascalhos e folhas secas de Outono inexistente...

Vivo no limiar de estações imemoriáveis, que se tornaram fogo e cinzas e zênites de gravitações intransverbalizantes, abalsamadas na paradoxia de meus sonhos mais próximos e mais distantes. Vivo como se tocasse o antes, advindo às sibilas onduladas de teus meneios de cabeça, inocoerentemente singelos, profundos, irônicos em seus toques de humanidade que perambulam pelos ecos universalizantes de três destinos.

Tantas línguas, tantas formas e palavras e faces e pessoas, possibilidades, pausas e olhares, músicas e o silêncio das árvores nas tardes solidarizantes de calíope apaixonada. Três destinos, três momentos; quantos sentimentos...?