domingo, 10 de novembro de 2013

Duas gatas



De repente, a história já não cabe dentro de si. Oceano um dia me mostrou que a vida da gente passa de um jeito diferente, que nosso mundo não pulsa por acaso. Oceano me disse uma vez, com todas as letras, para manter meus sonhos perto de mim.  
 Oceano tinha sete vidas, mas parecia ter uma eternidade ao lado de Chitara. Era inquieta como o fim do mundo em toda a sua sabedoria e charme apocalípticos. Seus olhos e sua boca e seus pulos não paravam um segundo, suas pegadas se estendiam até o teto. Oceano sempre esteve ali, efusiva ou em calmaria, com os olhinhos brilhantes de quem sabe que as dunas e areias de uma história não esperam por você.
 Chitara, por outro lado, sempre esteve em dois lugares. Seus olhos de gata me olhavam com a nostalgia dos viajantes, daqueles cujo corpo só respira quando as malas estão prontas e a estrada se chama liberdade. Sua voz tinha a mesma melodia dos locais que visitamos, em tempos distintos, ou em tempos outros que ainda não escrevi...
 Era um instante curioso aquele, em que ela me fitava os olhos e as estrelas no meio da noite, e silenciava os lábios: “Tem certos momentos em que as palavras não são necessárias...”.  Era um instante, tornou-se epiderme. Que a minha pele, desde então, pulsa e silencia sempre que encontro a tua voz, e a minha poesia se escreve em você a cada vez que te ouço hablar em mis sueños...  

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Silenciosamente

Me tocas em poesia
Com a tua boca,
Me faz bailar
Pelas tuas alamedas,
Ao nosso ritmo
Me faz alvorecer
Entre todas as flores
De teu corpo.

"São coisas lindas
Que eu tenho pra te dar,
Enquanto a noite
Vem nos envolver..."

Fecha os olhos,
Me tornas
Teu tempo
Um instante,
Me entrelaça
Em teus cabelos
De índia,
Em tua sinfonia
De silêncio e luz.
Chamas com teu riso
De guria, me incendeias
Com tua voz de mulher,
Me abraças em teu sol
Amorenado.

"Que a vida é mesmo assim,
Tem certas coisas
Que eu não sei dizer",

Tem certas palavras
Que eu não sei prever,
Tem certos bosques
Que farfalham
Esses textos
De nós dois
Enquanto tu
Amanheces em mim
E caminhas 
Pelos jardins
De meus sonhos.

"Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho"

segunda-feira, 1 de julho de 2013

De eternidades

Que tocam
Ao meu corpo
Ao compor
Da tua partitura...

A minha eternidade
É o tempo do sorriso,
O gosto do afago,
O toque de Vênus
Ao colar das peles,

Que o meu silêncio é assim
Cheio de palavras,
Na minha eternidade
De minutos
Platônicos.

Nessa minha eternidade
Que se não suspira
Devora...

A própria eternidade
Da areia molhada
Pelas cartas
Da cidade
Amorenada.

Num convite aos olhos
Um mar de esfinges,
Um conto ao acaso,

Um em cada passo
No espelho
Nossas asas,
Nossas bocas,
Nossos braços
Entre-nuvens.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Terpsícora


Sabe, tem vezes
Que eu queria
Escrever
Todo amor
Do mundo
Nessas palavras
E entregar
Pra você.

Não queria ter
Versos bonitos
Nem idealizados,
De escrever quem
Não se é.

Queria devorar
A cinética
Da tua poesia
Num movimento assim,
De deixar
As linhas
Perplexas.

Que das cores dessa vida,
Foi da tua pele
A que eu mais gostei.

Que de todas as flores
Do mundo eu quis você,
Não sei, não sei
Ao certo porquê.

Que há um descompasso
Um tremor,
Neste reino
De meu corpo.

E de todas as letras
Que dançam nos silêncios
Da leitura, foi a tua
A quem mais desejei.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Desata

Aprende a se perder
Um instante.
Para, contempla
Todas essas cartas
Escritas de entrelinhas.

Desfaz os anos,
Relaxa os ombros,
Deixa todos esses anjos
Escorrerem de si.

Pega a pele
Desta vida,
E os sorrisos
Que são mais
Que qualquer
Abandono.

Não faz mais
Assim,
De deixar
Esse teu amor
De ti
Se esconder.

Aprende, menino,
Com essa voz doce
Que te toca as saudades
E te traz um sorriso
No rosto.

Guarda as palavras,
O tempo bom, as flores
De cada minuto
Dessa paz
Que a tua boca
Ensinou a ter.

Ergue a cabeça
Ao som da minha voz,
Lê e desperta, homem,
Que as verdades
Da alma
Só existem
Ao cruzarem-se os olhos.

Perdoa, aqui,
Aos teus pecados
Mais próprios.
Sê humilde e aceita
A tua humanidade
De palavras errantes,
Que erram em demasia
E navegam distantes.

Afrouxa os nós,
Deixa o tempo
Encontrar
Nossas respostas
E curas.

Deságua em si
Com teus olhos de mar,
E nunca mais
Deixa a vida te passar
Sem lhe trazer
A verdade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

De lá pra cá



A cada dia mais
A gente desaprende
A ler em versos
De sol e lua,
A cada dia
A gente desaprende
A se falar um pouco mais,
A se lembrar mais um tanto,
A cada dia
Um pouquinho
A gente aprende
A desaprender
Aquilo
Que um dia
Disse,
Que o tempo
Faz voar,
Que as lágrimas
Dizem sem saber
Pra onde ir,
Que as cores
Das pinturas
Se revezam
Nos olhos,
Nas paredes,
Na pele da gente
Que todo dia
Se consome de sonhos.

A cada dia um pouquinho,
A voz que já não fala,
O coração que bate torto,
O toque das mãos do ar,
O abraço que era oásis,
A areia das recordações
Que escapa suave
Pelo canto da sereia,
A maré que bate na praia
Quando você sabe
Aqui dentro desse 'mar
Que nada foi de leve.

A cada dia
Um verso, uma raíz,
Uma parte de mim
Que vira flor.
A cada dia
A minha benção
Ao me distrair
Por esses jardins
De recortes,
De não saber
Pra onde ir,
Pra que ficar,
Porque partir.

De não saber dizer
De todos esses silêncios
Que a gente carrega nos olhos,
Porque só tua voz insiste em não calar.
De não saber reescrever
Esses corações bobos da gente,
Que já não sabem mais parar de amar.
De não saber, mais que tudo,
Como se escreve esse poema...
 
Que a cada dia
Parte de mim
Se desaprende
Em você.

Que a cada dia
Parte de você
Se desprende
De mim.
 


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tempo bom


Odaiá, minha memória,
Meu oceano.
Deixei as cartas
Ao teu colo
Nas ondas
Calmas.

Nadei de um lado
Ao outro do fim da tarde,
Na praia de todos os santos.

Achei um barquinho,
Abri meus braços ao sol!

Fiquei lá a navegar
Em meus pensamentos,
Em minhas saudades,
Em tuas águas, minha flor,

Que levantei até a borda do mar,
E mergulhei nas águas de Iemanjá

E fui logo a escrever
Minha história
Na areia,
Que sou eu
A quem escrevo
Quando as palavras
São espelho de céu.

Que o meu sorriso
um dia
eu encontrei assim,
deitado na grama,
ao olhar aquelas estrelas
Nos olhos destes versos.