sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Blindfolding

Caminhar para o precipício de olhos vendados. Que outra forma de voar com osso, carne e parafusos, sem risco e em palco improvisado? Teatro é sempre uma arte, parte forma, parte jogo, que guarda algo de mais verdadeiro a sobrepor encenações. Captar essa essência sem o vento batendo na cara é tarefa complexa, mais ainda quando se escreve do centro de um tornado. O colocar da venda, porém, é sempre voluntário; o tirar também. O que muda é descompasso entre tempo necessário para tanto e caminho das reflexões. Quando se está caindo, o tempo é sempre mais curto, mais imediato, impulsivo; quando você flutua, as ampulhetas se quedam, horizontalmente. Perceber a verdadeira intenção das pessoas é aceitar que elas são transitórias, como diria Heráclito, que se modificam por acordo e conveniência. É entender os limites que marcam permanência, ou que desafiam as mentiras e ilusões que contamos para nós mesmos. Porém a própria permanência implica em marcas, cada uma delas com seu cheiro específico, muitas vezes indeléveis. Aceitar tensão e consequências características destas duas forças antagônicas é escolha de poucos, bem como manter decisões até os últimos instantes. Talvez a questão toda seja a de perceber mudanças enquanto processo e realidade, não apenas vislumbre de desejo futuro ou passado.

Não muda o fato de que já vi algemas fechadas em uma mala, que a pessoa carregava por aí ao acaso ou com intenções bastante específicas. Porém, qual não foi minha surpresa ao saber, depois, que ela tinha esquecido das chaves?

Um comentário:

Sissa disse...

Poetico e filosofico guri; lerei denovo pra absorver mais coisas... mas adorei a queda ^^