sábado, 21 de junho de 2008

Momento interlocutivo

Muitas vezes eu me sinto uma criança que esqueceu o instante de adormecer, uma criança que perambula extática por entre idéias do dia e da noite, por entre risos e desordens de suspiros e murmúrios. Uma criança como que diante dum doce renegada, impertinente, impacientemente inconseqüente... Uma criança em hábitos e gestos de criança, bobos, desejeitados, inocentemente dissimulados pela felicidade incoerente de realizar uma travessura, ainda que breve.

Muitas vezes, a criança das decisões inabaláveis e dos desejos inquebrantáveis se confunde com o adulto, undívago a cruzar cautelosamente o mar das histórias, a tecer suas próprias memórias. Poder-se-ia, talvez, dizer que os dois velejam em uníssono a partir de um mesmo ponto: a essência dos desejos; mas creio que a mais sensata verdade seja admitir que a criança conduz o leme, a maior parte das vezes. Não meramente por descuido ou por supressões alimentares, como a falta de um almoço que nos invoca as emoções mais selvagens... mas geralmente pela minha dama eloqüente, que me concede essa vontade sapiente de deixar a criança aprender a navegar por diferentes corações, cores e feições de infinitos universos.

Meu único dilema é perceber que a criança ainda tem gestos involuntários, possessivos e ao mesmo tempo inseguros, como que querendo reafirmar sua soberania sobre mundos que no fundo ela sabe que se extendem muito além de seus olhos. Há também outras crianças ao seu redor, outros desejos, outros sentimentos e convicções tão profundos quanto suas paixões mais intensas.

Há, porém, instantes em que só o brilho de um sonho nos importa.

Olhamos pois para a face enlevada, o rosto poente de rosa sob a imagem da lua enfeitada de mármore, e eu apenas sei que a senhorita nos observa, Curiosidade. Pois sua itinerante vontade encontrou-se logo abaixo de nossas próprias palavras, visitando o caos angelical das idéias nem um pouco inocentes e fazendo reféns estes travessos observadores de palavras soltas na poeira cósmica de teus frutos e sementes estelares.

3 comentários:

Clarissa disse...

Eu gosto das tuas palavras.

^^

Anônimo disse...

Oh! Ouviu meu conselho?
Sinto a armonia aqui... E gosto de como vc escreve.
Sem mais, continue, quero ler mais.
=]

Fernanda Milene disse...

Descobri hoje seu blog...

Amei seu modo de lidar com as palavras, pareceram-me firmes e seguras!

Vizitarei com frequencia!