Na metade do dia
Em um círculo na beira da praia
Sóbrio.
O suor escorre por meus braços
Uma gota de suor na areia
Eu a pressiono com um dedo.
Moedas vermelhas, dinheiro de sangue
Ô mô pai devem pensar que amo muito tudo isso
Mas é só para o pão e a cervejinha e o aluguel
Dinheiro de sangue
Tenso malditos piolhos sinto-me mal.
Mendigos ato-falho, falhando
Uma mulher se levanta,
Atravessa porta-afora
Bate a porta.
Um poema imundo
Já me disseram para não ler poemas assim
Aqui.
Muito tarde.
Algumas linhas se embaçam aos olhos,
Eu leio
Tiritando
Malditos piolhos.
Ninguém escuta minha voz
E digo
É isso, desisto,
Está tudo acabado.
E mais tarde no quarto
Com Scotch e cerveja:
O sangue de um covarde.
Deve ser esse então
O meu destino:
Escrafunchar os centavos dos pequenos corredores escuros
Em que releio poemas de que há muito me cansei.
E costumava eu pensar
Que os homens que dirigiam ônibus
Ou limpavam latrinas
Ou eram assassinados em becos
É que seriam idiotas.